terça-feira, 28 de abril de 2020

Fim de Verão - Joyce Maynard

Adquiri esse livro em uma promoção no sebo que eu trabalhava, algo como "compre dois livros e escolha um do balaio grátis", ou seja, não foi uma leitura que eu tenha buscado por vontade própria. Depois disso, ele acabou ficando parado na minha estante por anos, até que o tédio da quarentena me impulsionou a ler. Ainda bem.

Estamos apenas em abril e eu já ouso dizer que este tem potencial para ser a melhor leitura do ano. Com uma sinopse simples, o livro parece não ter muito a surpreender em suas 220 páginas, mas com sua linguagem fácil e emoções realistas, a leitura nos prende do início ao fim.

O livro é narrado por Henry, um rapaz já adulto, mas que resolve compartilhar conosco uma história que aconteceu aos seus 13 anos de idade, em um fim de verão que mudou para sempre sua vida e da sua mãe Adele.

Adele era uma dançarina cheia de vida, que encantava à todos ao seu redor: divertida, generosa, linda de corpo e alma, engraçada e apaixonada. Mas Henry já lembrava pouco dessa mulher, visto que a separação dela e de seu pai afetaram-na radicalmente. Desde então, ela nunca sai de casa, nunca se arruma, suas mãos tremem muito, ela não dança e parece não se importar com nada nem ninguém além do filho,  como se o brilho que ela emanava tivesse ido embora junto com o marido, o qual constituiu uma nova e perfeita família.

Henry diz:
“Eu podia sentir a sua solidão e a sua carência antes mesmo de saber o nome para esses sentimentos... Eu concluí que não foi a perda do meu pai que partiu o coração da minha mãe... foi a perda do amor. O que ela amara fora o próprio amar”.

Entretanto um dia, indo ao mercado, um estranho lhes pede ajuda de uma forma inusitada: ele está machucado e precisa de carona e de um lugar para ficar. Adele simplesmente concorda em ajudá-lo, mesmo sem saber nada sobre o homem, apenas que se chama Frank. Isso não surpreende Henry: era natural da sua mãe fazer boas ações e acreditar nas pessoas.

Chegando em casa, eles acabam descobrindo que Frank havia sido preso por assassinato e após 18 anos do ocorrido, fugiu do presídio naquela tarde. Estava sendo procurado por todos ao redor, pois segundo todos os noticiários, ele tratava-se de alguém altamente perigoso.

Porém, nada que era divulgado combinava com a imagem do homem que eles foram conhecendo nos dias que se seguiram: Frank trouxe vida à Adele e fez Henry se recordar de como era ter uma família. Enquanto seu pai biológico vivia lhe pressionando e comparando com o meio-irmão, diminuindo Henry por sua inabilidade com esportes, Frank teve paciência e carinho ao ensinar-lhe arremessos, passes e também outras coisas como tortas de pêssego e plantações. E por mais que todos os fatos noticiados mostrassem Frank como um monstro, foi ele que ensinou-lhes sobre o amor.

"A melhor droga que existe, acabei entendendo, é o amor. Amor raro, para o qual não se encontra uma explicação. Um homem pulou de uma janela do segundo andar e entrou correndo, sangrando, numa loja barata. Uma mulher o levou para casa. Eram duas pessoas que não podiam se mostrar ao mundo, que fizeram um mundo próprio uma com a outra, entre as paredes finas demais da nossa velha casa amarela"

"O que vale registrar, pelo menos, é o fato de que não está sozinho. E é minha experiência que quando você faz isso - parar, prestar atenção, seguir os simples instintos do amor -, muito provavelmente a pessoa responderá de forma favorável. Isso geralmente se aplica aos bebês e à maior parte das outras pessoas também. E pessoas de vida tão sofrida que parece não haver esperança para elas, só que pode haver."

"Fim de verão" é uma leitura magnifíca por mais motivos do que posso citar. Trata-se não só de um romance, mas também de uma história repleta de assuntos importantes: a puberdade de Henry, a descoberta da sexualidade, a depressão de Adele (que tem motivos mais profundos do que pode parecer), o crime de Frank, o sentimento de abandono de Henry em relação ao seu pai e sua nova família e, principalmente, a diferença que amor e cuidado pode fazer na vida das pessoas.

Some tudo isso à um final comovente, uma escrita fluída e sem firulas: é uma história escrita com pureza, com verdade. Você lê e consegue entender o sentimento de cada personagem, as motivações e mágoas, as dúvidas, as necessidades. O tipo de leitura que, ao terminar, você tem vontade de sair gritando aos quatro ventos que o mundo todo deveria dar uma chance à esse livro, mesmo com sua capa sem graça e sua sinopse simplória: vale a pena, eu garanto!

Hoje descobri ainda que existe uma adaptação cinematográfica chamada "Refém da paixão", lançada em 2014 e que conta com a atuação de  ‎Kate Winslet  como Adele e Josh Brolin como Frank. Não assisti ainda, mas pelo trailer pareceu ser bem fiel à obra, e pela escolha de atores, acredito que valha a pena assistir!



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