terça-feira, 27 de setembro de 2016

Menina má - William March

Publicado originalmente como "Semente do mal", no ano de 1954,  "Menina má" voltou com tudo através de uma linda e adorável edição, pela DarkSide Books.

O livro nos conta a história de Rhoda Penmark, uma criança de oito anos, com rosto angelical e comportamento aparentemente exemplar. Rhoda é educada, nunca se suja, tem uma inteligência e esperteza avançadas para sua idade  e está sempre impecável em todos os sentidos. Porém, todas essas qualidades vem acompanhadas de um comportamento frio e calculista, muito incomum para uma criança. 

A história começa quando há um concurso de caligrafia na escola, para o qual Rhoda se preparou muito tempo e aperfeiçoou sua caligrafia, de modo que jurava não ter competidores à altura, mas a medalha é dada ao seu colega Claude, deixando a menina irada. Dias depois, em um piquenique da escola, o menino é encontrado morto e sem a medalha.

Todos acreditam que a criança se afogou acidentalmente, mas também afirmam ter visto Rhoda próxima ao local onde o corpo foi encontrado. E, para o desespero de Christine, a medalha aparece nas coisas da filha. Porém, quando questionada à respeito, Rhoda abusa de seu charme angelical, sua adorável covinha e seu comportamento perfeito: "Quem poderia duvidar de uma criança tão linda e exemplar?!" 

Entretanto, o que mais impressiona é a frieza da menina. No dia do acidente, Christine se prepara para acalmar a filha, achando que Rhoda chegaria em casa traumatizada e assustada pela perda do coleguinha e a menina chega feliz como sempre. Quando indagada sobre o assunto, ela afirma que não teria porque se abalar, pois quem se morreu foi o colega, não ela.

Ao longo do livro, narrado em terceira pessoa pela perspectiva de Christine, vamos observando diversos traços da personalide de Rhoda, dos estranhos acidentes que sempre pareciam acontecer quando apenas ela estava por perto da vítima. De forma sutil e muito inteligente, o livro mostra um retrato perfeito da psicopatia que se manifesta desde a infância.

Ainda que tente se enganar, Christine vai cada vez mais se dando conta que Rhoda é como uma semente do mal: desde a raiz estava fadada à causar mal à todos aqueles os quais a morte pudesse lhe beneficiar em alguma coisa. E quanto mais descobre sobre Rhoda, mais Christine descobre sobre si mesma e sobre seu passado, dando à história o fechamento perfeito.

O que mais gostei no livro é a verossimilhança: diferentemente dos filmes que já assisti do gênero (apesar de haver bem poucos títulos sobre psicopatia infantil), Rhoda não parece ter super poderes: ela mantêm uma certa inocência de criança e, em alguns momentos, um comportamento infantil e todos os seus crimes são coisas totalmente possíveis de acontecer, nada parece fantasioso. 

A única coisa que não consigo decidir se gostei mesmo, foi o final. Eu esperava que o plano de Christine fosse bem sucedido, mas ao mesmo tempo, o final me remeteu àqueles filmes de terror da década de 90, por tudo que deixa no ar.

O que posso afirmar é que racionalmente falando, minha decisão seria a mesma de Christine mas que, quando estamos envolvidos emocionalmente, sabemos que a questão é muito mais complicada e esse paradigma que deixou bastante confusa à respeito do que uma pessoa na situação de Christine deveria fazer. 

A leitura é super fácil e, antes da história começar, ainda temos um bônus: uma mini biografia do autor, que nos ajuda a entender um pouco mais de sua trajetória e da importância de "menina má" quando lançada.

Sendo da DarkSide Books, eu até poderia dispensar comentários quanto à diagramação, pois é a editora mais perfeita do Brasil e não há como não se encantar com cada detalhezinho do livro: as primeiras páginas em Poá, o desenho da sombra de Rhoda, a capa com a bonequinha simbolizando a inocência infantil, o fato de NÃO ter o título na frente (o que eu adoro!), as tesourinhas em cada troca de capítulo... Enfim, tudo é maravilhoso e eu não esperava menos da DarkSide. Esse foi o meu primeiro livro da editora, mas aguardo ansiosa pelos próximos. 

A história também ganhou uma adaptação cinematográfica, chamada "semente do mal", mas encontrei apenas um vídeo do trailer, em inglês e em preto e branco, então não há como saber se foi uma boa adaptação. O que posso afirmar, é que Rhoda foi inspirada em casos reais de psicopatia infantil, como da menina Elizabeth Thomas, com a diferença que no caso de Beth, a psicopatia também derivava dos inúmeros traumas que a menina sofreu devido aos abusos de seu pai e a infância conturbada. Ainda assim, o relato de Elizabeth mostra os mesmos traços de Rhoda: a frieza e crueldade, os planos de assassinato. 

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